De quem é a culpa do custo Brasil?
Há mais de 20 anos atuo com soluções que atendem diretamente a indústria, e desde que comecei nessa área eu escuto que o único culpado do não crescimento do Brasil e do seu alto custo de operação é o governo e, por causa desse custo, o famoso vilão custo Brasil, a nossa competitividade geral cai comparada a outros países do mundo.
Mas será que essa afirmação realmente está correta?
Em um estudo feito pelo Fórum Econômico Mundial em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), publicado ao final de 2016, foi feita uma comparação entre 138 países com análise de diferentes fatores, dentre eles o nível de produtividade e as condições gerais oferecidas pelos países para gerar oportunidades; o Brasil ficou em 81º colocação, caindo seis posições comparando ao ano de 2015 e 33 posições em quatro anos.
Para a obtenção dos valores de comparação foram analisados diferentes fatores e eles foram agrupados em doze diferentes categorias, são elas: instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação primária, educação superior e treinamento, eficiência do mercado de bens, eficiência do mercado de trabalho, desenvolvimento do mercado financeiro, prontidão tecnológica, tamanho de mercado, sofisticação empresarial e inovação.
Dos 12 itens acima, há realmente algumas categorias que são muito difíceis de controlar e de influenciar, mas percebe-se que há pelo menos seis categorias que não dependem absolutamente nada do governo ou de fatores externos e sim de nós, são elas: treinamento (sendo que educação superior não está sob nosso controle direto), eficiência do mercado de bens, eficiência do mercado de trabalho, prontidão tecnológica, sofisticação empresarial e inovação.
Será que estamos tratando dessas seis categorias com o cuidado que elas realmente merecem?
Só para termos uma ideia, com relação a categoria inovação, a instituição “Global Innovation Index” em uma análise bastante profunda colocou o Brasil na posição de número 69 em um ranking de 128 países. Dentre os BRICS, estamos na última colocação, isso é, nós estamos realmente negligenciando fatores importantes e relevantes para a redução de nosso custo, o famoso “Custo Brasil” e, consequentemente, para o nosso aumento de competitividade global.
E com relação às outras categorias? Será que possuímos a sofisticação empresarial necessária para competirmos em um mundo globalizado? Será que os nossos colaboradores têm a capacitação suficiente para entregar com rapidez e qualidade todas as demandas de um mercado cada vez mais exigente?
Sei que grande parte do nosso rendimento como indústria realmente depende de investimentos e a criação de políticas públicas, mas precisamos também fazer a nossa parte no processo de mudança e, principalmente, fazer enquanto ainda temos tempo para mudar.
Texto por Vitor Hugo Jacob, Diretor da LWT Sistemas